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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um perdão sem perdão...

"É transparente e lúcido sentir um lençol jogado no meio do quarteirão
Com um cheiro intacto de tantas vidas amassadas e rasgadas
Encontrando um desafio abolido no meio daquela multidão
Tantas cartas fuziladas, julgadas dentro de um mundo complexo

Como se desculpas pudessem apagar o que foi feito daquele lençol
Como se a vida tivesse a chance de tentar suportar um perdão
Como se essa tentativa de suicídio fosse me indagar
São papéis, velhos papéis que não cabem mais dentro de mim

A minha incapacidade de não acreditar mais na pureza
Quero folhas brancas pra sentir o cheiro desconhecido
Quero investigar o sentido dos estímulos de um mundo diferente
Quero me olhar em um espelho onde eu possa enxergar meu oposto

Apagar a outrora que me trouxe e me levou por um tempo
Me distanciar das construções mal feitas e mal acabadas
E então gabar da minha própria existência refletida em um balanço
Onde só eu posso me condenar por alguma consequência de ato

Sim, estou me anestesiando com meu maior vício, a solidão
Esta que é capaz de compreender os passos de qualquer perdido
E da suma importância de me proteger dos destemidos vendavais
Da minha vasta e incerta reflexão sobre o caminho percorrido

Quero me sentar ao longo do nascer do sol e sentir a sua potência
Sentir a vibração mais tocante para pensar que ainda posso respirar
Longe de tudo que me permiti vivenciar e criar
Deitada em algum espaço desse majestoso continente

Não importa o lugar, os lençóis limpos e sujos sempre surgirão
Me farão compreender o sentido de ficar sozinha e desprotegida
E então a areia poderá tocar meus olhos para que eu tenha uma desculpa
E querer ainda mais expandir meus vidros quebrados pelo chão

A criatividade de inovar dentro de um contexto abduzido
Infatizar os desníveis de um absoluto desejo inconsequente
Aproveitar enquanto o tempo ainda está a meu favor
E me desmanchar sobre os deslises ocorridos por um muro quebrado

Desmantelar as crises fornecidas pelo direito de viver
Pelo meu único direito de sentir um toque irreconhecível
E assim poder dizer o quanto eu queria estar de volta àquele velho lençol
A caminhada de volta então se propaga confusa

E no meio dessa multidão de gente viva, me perdi
E nunca mais pude te encontrar, o tempo passou voando para todos
E meu tempo só foi sentir o seu perfume que ainda estava no meu suor
Agora ele simplesmente desapareceu, como tudo que eu vivi

As vezes se tornou tarde para eu poder voltar atrás
E o perdão de que tanto falei e esperei, se perdeu nas entrelinhas
E estou sozinha outra vez, procurando seu cheiro em algum corpo desconhecido
Para que eu possa encontrar um outro lençol abandonado em uma rua desfavorecida."

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